Difícil
dizer, como em tão pouco tempo nossa cultura se perdeu, e o que levou a essa torrente
desastrosa de entretenimento chulo. Qual fora o ponto em que o obsceno e o
ridículo, tomaram espaço do crítico e poético. Em um período irrisório, mudamos
do “Já me acostumei
com a tua voz. Com teu rosto e teu olhar. Me partiram em dois. E procuro agora o que é minha metade. Quando não estás aqui. Sinto falta de mim mesmo. E sinto
falta do meu corpo junto ao teu”, para o
desastroso, tosco, pecaminoso “Cola a
bunda no chão vai, cola a bunda no chão vai, cola a bunda no chão vai”.
Com certeza a música sempre esteve na vanguarda determinante de uma
cultura, ditando modas e tendências. Entretanto as alterações culturais tiveram
bruscas mudanças em vários setores do entretenimento. Programas que antes eram
voltados para a família, com conteúdo apropriado e respeitoso, onde todos os
membros com suas idades variadas poderiam assimilar as informações
transmitidas, deram espaço ao apelativo e nada criativo.
Programas de auditório e voltado ao público infantil, propagandas e
séries, de repente tudo ficou mudado, o criativo, cômico, ganhou conotações
inapropriadas, com fortes tendências sexuais e de violência. Novelas que antes
refletiam situações amorosas e dramáticas, agora falam de discórdias, busca
incessante por poder, incitam o ódio, a exploração dos menos favorecidos e
violam todos os princípios familiares.
E o pior é que muitas vezes não percebemos o quanto somos
influenciados por essas tendências populares. Casamentos atualmente são
desfeitos mais rapidamente do que o tempo utilizado no preparo da festa
matrimonial. Crianças são tratadas como adultas, usando maquiagem, vestidos
curtos, explorando a integridade do próprio corpo, rebolando em músicas com
características sedutoras, enquanto adultos acham isso normal e bonito.
E a lista do desastre cultural é grande. Já passamos por segura o
tchan, ralando na boquinha da garrafa, dança da vassoura, prova da banheira,
onde pessoas pegavam sabonetes dentro d’água, propositalmente mostrando corpos
seminus em biquínis e sungas minúsculas, em busca de vencer a concorrência na
disputa por audiência.
O que dizer então da depravação intelectual dos chamados realities
shows, que de reais não possuem nada. Joguetes pífios de intrigas e tramas
montados pela produção, repetidos por famosos imediatistas sem talento algum e que
usam de seus músculos torneados e silicones avantajados para atrair a atenção
do telespectador.
Inevitavelmente partimos para o pior possível. As pessoas estão condicionadas
através da mídia a ostentarem a baderna e deixar de lado o essencial. O senso crítico
por mudanças e atitudes necessárias, discutido em tempos passados, hoje é
banalizado por farras, regadas a dinheiro, bens materiais, mulheres, drogas,
álcool, sexo e tudo aquilo que realizado sem a devida responsabilidade, criam
resultados indesejados, e o que é pior, gera uma reação em cadeia.
Pensando sobre esse assunto, chego à conclusão que Charles Darwin
estava errado, pois de maneira alguma podemos considerar esse cenário como
evolução.
Vivemos em plena cultura da aparência: o contrato de casamento importa
mais que o amor, o funeral mais que o morto, as roupas mais do que o corpo e a
missa mais do que Deus.
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